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Roger Waters canta clássicos do Pink Floyd e entrega produção extraordinária durante show em São Paulo

47 mil pessoas assistiram ao show no Allianz Parque, no último sábado (11)

Foto: Marcos Hermes

Com histórias de bastidores, super produção e uma infinidade de clássicos, além de uma banda sintonizada e competente, Roger Waters deu um verdadeiro espetáculo no Allianz Parque, no último sábado (11), com a “This Is Not a Drill Tour”. Sem dúvidas, o show exprimiu a personalidade do cantor (que ainda tocou guitarra, violão, piano e baixo), celebrando não só as faixas do Pink Floyd, como também sua própria carreira solo.

A todo momento, o público era estimulado de alguma forma: pelas imagens nos telões, pelas palavras projetadas, pela pirotecnia, pelas luzes de longo alcance e, principalmente, pela música executada com maestria.

É necessário destacar que o show do ex-integrante do Pink Floyd foi dividido em dois sets. Depois de criar certa expectativa, com uma contagem no telão a partir dos 20 minutos anteriores, um recado foi passado aos fãs: “Senhoras e senhores, por favor, ocupem os seus lugares. O espetáculo está prestes a começar. Primeiramente, em consideração aos demais espectadores, desliguem seus celulares. Em segundo lugar, se você é um daqueles que diz ‘eu amo o Pink Floyd mas não suporto a política do Roger’, vaza pro bar.”

Ato 1

Antes de propriamente iniciar a primeira parte do repertório, às 20h20, o cantor entrou vestindo um jaleco branco, como se fosse um médico, e, diferente de outras cidades, sem empurrar uma cadeira de rodas. Na verdade, ele sentou no palco, de frente para uma cadeira vazia, enquanto anotava em uma prancheta. Um cenário quase assombrado e distópico preencheu os quatro grandes e tecnológicos telões espalhados, criando uma experiência imersiva e altamente sensorial – que incluiu trovões e sombras de pássaros voando entre as imagens.

Assim, sob esse pano de fundo, ele entoou a nova versão de “Comfortably Numb”, mais sombria e sem o solo  – dividindo o palco com Jonathan Wilson (guitarra e vocais), Dave Kilminster (guitarra e vocais), Jon Carin (teclado, guitarra e vocais), Gus Seyffert (baixo e vocais), Robert Walter (teclado), Joey Waronker (bateria), Seamus Blake (saxofone) e com as poderosas Shanay Johnson e Amanda Belair (backing vocals).

A melancólica atmosfera construída mudou drasticamente para “Another Brick In The Wall”, partes II e III”, dessa vez com uma forte iluminação vermelha e fogos, além dos dizeres “Us”, “Good”, “Them”, “Evil” e um coro mais entusiasmado do público. As faixas solo “The Powers That Be”, com fortes casos de violência transmitidos nas telas em tom crítico, e “The Bravery of Being Out of Range” vieram em seguida – essa última com declarações de presidentes americanos, intitulados “criminosos de guerra”.

Nesse momento, Waters fez uma pausa para conversar um pouco com a plateia. Ele pronunciou “boa noite” e “obrigado” em português, então brincou, entre risadas:

“Iremos cantar uma nova música agora, chamada ‘The Bar’, é uma música que compus durante a pandemia. ‘The Bar’, em inglês, significa um lugar que você vai… vocês provavelmente sabem, muitos de vocês devem falar inglês. Estou com vergonha que não falo português, eu deveria, desculpa por não falar. Então, quando vamos para o bar, podemos beber ou não, encontrar amigos, mas às vezes encontramos estranhos e essa é a parte importante sobre bares, é o lugar em que conversamos com pessoas e podemos trocar opiniões. Hoje a noite, o topo desse piano é nosso bar. Tem em cima algumas garrafas com um líquido dentro, que pode ou não ser água, vamos descobrir mais tarde. O bar na verdade se estende para todo o estádio, todos vocês estão no bar, comigo e com minha banda. Estamos realmente felizes por receber vocês.”

Sentado no piano, que, de fato, continha garrafas Madre Mezcal, Roger emendou parte de “The Bar”, com a letra traduzida nos telões, e, ao som dos dizeres “vamos voltar no tempo, quando eu tocava rock em uma banda diferente”, “Have a Cigar”, que chamou atenção pelas fotos e referências ao Pink Floyd datadas de 1974 e pelas guitarras magnéticas.

Para introduzir a simbólica “Wish You Were Here” (que teve até pedido de casamento na plateia!), os telões relembraram uma icônica história envolvendo Syd Barrett, ex-companheiro do cantor no Pink Floyd, ao som do característico violão. Segue transcrição:

“Certo, vamos voltar ainda mais atrás… antes do Pink Floyd. Quando Syd e eu ainda éramos crianças em Cambridge. Em um fim de semana, nós fomos para Londres, ver um concerto pop, no Gaumont State, em Kilburn. Gene Vincent era a atração principal e os Rolling Stones também estavam no programa. Foi ótimo. Voltando para casa no trem depois, Syd e eu tínhamos tudo completamente planejado. Fizemos um acordo que quando estivéssemos na faculdade em Londres, começaríamos uma banda. Sonhamos o sonho. E, por um tempo, vivemos isso. O resto é história. Depois disso, as coisas ficaram um pouco complicadas. Alguns anos depois, em 1968, após uma reunião na Capitol Records em Los Angeles, Syd e eu paramos no semáforo em Hollywood e Vine. Syd sorriu para mim e disse: ‘é bom aqui em Las Vegas, não é?’. Então seu rosto escureceu e ele cuspiu uma palavra: ‘pessoas’. Quando você perde alguém que ama, isso serve para lembrá-lo. Isso não é um treinamento.” 

Suavemente, o texto ganhou outro caráter, mais puxado ao suspense, mudando até de coloração – novamente em tons quentes, que incendiaram o Allianz Parque. Roger refletiu metaforicamente sobre problemas na vida pessoal, para executar “Shine On You Crazy Diamond” – marcada, no final, pelo solo de saxofone e por Roger levantando a própria guitarra :

“E é tão fácil se perder. Não é? Por volta da época de ‘Wish You Were Here’, outra coisa que deu errado foi o meu primeiro casamento. Então eu estava um pouco emocionalmente instável. Uma noite, jantando na cantina do Abbey Road, eu quase me perdi. Foi como olhar na direção errada através de um par de binóculos. Eu estava comendo ovos pequenos, salsicha, batata fritas e feijão com uma faca e garfo pequenos segurados em mãos bem pequenas em uma mesa pequena com uma banda pequena. Estou tendo um colapso nervoso. É assim que acontece. Então eu murmurei minhas pequenas desculpas, atravessei a pequena cantina, pela pequena porta, subi as escadas pequenas, em direção ao pequeno estúdio 3. Sentei-me ao pequeno piano de cauda. Fechei os olhos e comecei a tocar. Não faço ideia de quanto tempo fiquei lá. Mas, eventualmente, uma voz disse: ‘Roger, estamos voltando’. Respirei fundo e abri um olho. O Steinway estava de volta ao tamanho normal. Dessa vez não me perdi.”

Mais uma vez, um novo conto foi narrado pelas telas. Apesar de repetida em sequência, a ação não pareceu cansativa, visto que engrandeceu o espetáculo e contextualizou a história do artista – o que, para os fãs, com certeza foi um bônus.

“Sim, e então vieram os anos setenta. Em 1977, lançamos ‘Animals’, minha homenagem ao grande George Orwell, que estava tão certo em nos alertar sobre o futuro distópico em seus livros ‘1984’ e ‘A Revolução dos Bichos’. E também estava Aldous Huxley em ‘Admirável Mundo Novo’. E Dwight D. Eisenhower estava certo em seu discurso sobre o Complexo Militar Industrial. E eu também estava certo quando escrevi ‘Sheep’.” 

Uma enorme ovelha inflável sobrevoou a pista para fazer jus à faixa “Sheep”. Diferentes desenhos do animal também preencheram o espaço. No final, com avisos sobre resistência, Waters simulou uma “lutinha” em interação com a plateia e encerrou a etapa inaugural da noite em grande estilo, com direito a fogos

Ato 2 

Após cerca de 25 minutos de pausa chamada “Intermission”, Roger Waters retornou com “In the Flesh”. Foi como reviver os primeiros segundos de show, mas numa nova roupagem.

A estrela do dia voltou em uma cadeira de rodas, todo de branco, cercado de “dois enfermeiros” e explosão de fogos. Com imagens de celas, ele interpretou a faixa sentado, com os braços amarrados. Um porco voador, tradicional em seus espetáculos, planou pelo público, com barulho de sirene, olhos vermelhos e a frase “you’re up against the wall right now”.

Sob pedidos de aplausos e diversão – e agora com o cantor em pé, cantando falsamente ensaguentado – “Run Like Hell” agitou a plateia, dando então, lugar para uma “Déjà Vu” mais acústica, clamando por direitos humanos iguais para toda a população, e “Is This The Life We Really Want?”, com um expressivo Roger no piano, gesticulando e dando ênfase aos versos finais (projetados nos telões em português, inglês e espanhol).

A partir daí, a iluminação ganhou tons mais claros, puxados para o azul e verde. Assim, com certa calmaria e intimismo, vieram “Money” (com um fofo abraço entre a atração principal e Dave Kilminster) , “Us & Them”, “Any Colour You Like”, “Brain Damage” e “Eclipse”. No caso da última citada, é impossível não mencionar as luzes de arco-íris que alcançaram cada canto do estádio, tornando o momento mágico e memorável para qualquer um que estivesse assistindo, em memória ao prisma da capa de “The Dark Side of the Moon” (1973) .

Entrando no bis, embalado por gritos característicos de “olê, olê, olê, Roger, Roger”, o artista tirou mais um tempinho para conversar, descrevendo como uma “ótima experiência” a noite e agradecendo aos fãs, até entoar “Two Suns in Sunset” (com um pôr do sol ao fundo e um discurso sobre o perigo de armas nucleares).

O resto de “The Bar” atuou como um dos pontos mais engraçados e, ao mesmo tempo, emotivos. Junto dos companheiros de palco, antes da faixa, Waters bebeu um shot, em dedicação “à saúde de vocês, que têm sido tão bons com a gente”. Ao terminar a bebida, o cantor fez uma leve careta e garantiu que, realmente, o líquido não era água. Então, dedicou a letra para Bob Dylan, sua esposa Camilla, que estava presente, e seu saudoso irmão John, que morreu no ano passado, e continuou a música no piano. Luzes de celulares inundaram todos os setores da arena.

Para finalizar, introduziu cada integrante da banda e deixou o palco enfileirado com os músicos, direcionando despedidas de maneira carinhosa aos fãs. O mais legal é que, mesmo após a saideira, o show continuou. Para divertimento do público, o telão foi tomado pelo backstage, onde foi possível ver o cantor e seus instrumentistas dando sequência à “Outside The Wall”, juntos em círculo, trazendo, mais uma vez, os fãs “para dentro”.

É essa sensação que fica depois de 2h30: cada uma 47 mil pessoas presentes no Allianz Parque neste sábado (11) recebeu um vislumbre da mente de Roger Waters, de sua longa trajetória na música e, principalmente, da mensagem que ele quer transmitir em cima do palco.

Setlist:

  1. Comfortably Numb

  2. The Happiest Days of Our Lives

  3. Another Brick in the Wall, Part 2

  4. Another Brick in the Wall, Part 3

  5. The Powers That Be

  6. The Bravery of Being Out of Range

  7. The Bar

  8. Have a Cigar

  9. Wish You Were Here

  10. Shine On You Crazy Diamond (Parts VI-IX)

  11. Sheep

  12. In the Flesh

  13. Run Like Hell

  14. Déjà Vu

  15. Déjà Vu (Reprise)

  16. Is This the Life We Really Want?

  17. Money

  18. Us and Them

  19. Any Colour You Like

  20. Brain Damage

  21. Eclipse

  22. Two Suns in the Sunset

  23. The Bar (Reprise)

  24. Outside the Wall

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